2009-01-28

No teu poema

No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um céu aberto

Janela debruçada para a vida.


No teu poema

Existe a dor calada lá no fundo

O passo da coragem em casa escura

E aberta, uma varanda para o Mundo.

Existe a noite

O riso e a voz refeita à luz do dia

A festa da Senhora da Agonia

E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte.


No teu poema

Existe o grito e o eco da metralha

A dor que sei de cor mas não recito

E os sonos inquietos de quem falha


No teu poema

Existe um cantochão alentejano

A rua e o pregão de uma varina

E um barco assoprado a todo o pano.

Existe a noite

O canto em vozes juntas, vozes certas

Canção de uma só letra e um só destino a embarcar

O cais da nova nau das descobertas.

Existe um rio

A sina de quem nasce fraco, ou forte

O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte.


No teu poema

Existe a esperança acesa atrás do muro

Existe tudo mais que ainda me escapa

E um verso em branco à espera... do futuro.


José Luís Tinoco

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